domingo, 9 de outubro de 2011

9/outubro


A vida não é mais que uma experiencia alucinante. Em que tudo não passa de uma realidade cativante, uma realidade que muitas vezes se torna uma ilusão acabando sempre em desilusão.
A vida leva o seu rumo e cabe a nós agarra-lo ou muda-lo. 
O tempo não para, acelera ou abranda independentemente da nossa necessidade de o parar por um pouco.
Aprendi a dar mais valor ao que tenho, pois o que é meu agora, a qualquer momento deixará de o ser. O eterno e para sempre no meu vocabulário deixou de ter qualquer sentido ou nexo, pela minha vida a fora entrarão e sairão pessoas e cada uma com a sua maneira de ser acabará por me marcar de muitas maneiras diferentes.
Nem sempre temos tudo aquilo que queremos. 
Nada se ganha sem esforço, e eu orgulho-me de puder dizer que aquilo que tenho foi fruto do meu mérito. Aprendi que as pessoas não se cativam sem tempo e amizade, por isso orgulho-me de dizer que as que cativei foi com demora e dedicação.
Mantenho a postura correcta, ignoro a cobardia de quem pensa que me afecta.
(...) vocês andam a procura daquilo que eu já encontrei.

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

uma outra personagem



m



ariana tinha apenas nove anos quando começou a sentir que algo nela era “diferente”, e, quando digo diferente, não era por lhe dizerem que era a menina mais bonita da turma, por ter os cabelos mais compridos nem os olhos mais sobressaídos. Não se tratava disso.
 A pequena Mariana começou a aperceber-se de que já todas as raparigas da turma se começavam a preocupar em ter as unhas pintadas, em deixar de jogar as escondidas e a apanhada para dar voltas no recreio e reparar qual dos rapazes tinha mais a ver com elas.
 Nessas alturas, a pequena Mariana não tinha como esconder a sua indiferença perante essas mínimas coisas a que todas as meninas ligavam. Chegando ao ponto de se isolar, passando os intervalos sozinha, como se estivesse perdida no meio de recreio enquanto os rapazes jogavam à bola e as meninas “fofocavam” acerca de tudo.
 Deixava-me ficar perto das árvores com um olhar de medo e insegurança. O movimento apenas existia no meu cabelo que se mexia com o soprar do vento.
  Eu preferia ver as raparigas do primeiro e do segundo ano a brincarem ao elástico, a fazerem os jogos das mãos e a saltarem à corda, só não entendia porque é que nós não continuávamos a ser as mesmas meninas que brincavam a tudo aquilo. Porque é que os nossos interesses mudaram e deixamos de nos lembrar das nossas brincadeiras?! Certamente agora até as nossas festas de anos iram mudar, é possível que deixe de existir as gincanas de que todas as famílias adoravam para o convívio e desenvolvimento do nosso sentido de responsabilidade (era uma coisa de que os adultos falavam, mas que eu nunca consegui entender o que queriam dizer com isso), mas sempre que pensava nisso, deixava-me triste, pois parecia que tudo aquilo que fomos, não iríamos ser mais.
 Mais tarde, comecei a aperceber-me que o problema não era eu, não eram elas, era estarmos a crescer.
Eu não queria ser “grande”, eu não tinha pressa em experimentar os saltos altos da mãe, curiosamente, só o fiz uma vez e não gostei, achei que em vez de suportar as responsabilidades na cabeça, parecia ter que as “carregar” nos pés.
 Foi estranho, de certa forma incomodativo, pois não era isso que eu queria. Queria continuar a jogar às escondidas, a saltar à corda e ter pressa de fazer apenas uma coisa, ir para os baloiços.
E sabem porquê? Porque costumava ouvir a minha irmã dizer que ser adulto era ter responsabilidades, ser adulto era ter preocupações e deixar de ter tempo para brincar e por vezes até para nós mesmo por termos de dedicar o nosso tempo a tentar construir um futuro bom para nós. Isso parecia complicado para mim, como é que nós podíamos ter de construir um futuro? Mas, isso não acontece sozinho?
Questionava-me vezes sem conta destas pequenas coisas, pois elas não faziam sentido na minha cabeça. Até que tive a minha primeira responsabilidade. A mãe mandou-me ir a mercearia as 17horas, mas, ela sabia o quão me assustava pensar que tinha de ir sozinha, tentei explicar-lhe isso, mas não adiantou.
 Perto da hora, resolvi arranjar coragem para o fazer, lembrei-me de que tinha de fazer tudo como se já fosse “grande”, então, fui buscar as chaves para trancar a porta, calcei as sapatilhas e lá fui eu.
Estava com medo, de certa forma aquilo implicava que fosse apenas um adulto por uns minutos, nesta altura, já tinha doze anos e estava na altura de o tentar fazer.
 Lá fui, fi-lo correctamente como a mãe queria e regressei a casa. Surpreendentemente minutos depois de entrar em casa chegou a minha irmã, estranhei, mas nada disse. Ela dirigiu-se ao meu quarto e disse:
 - “Parabéns Mariana! Eu sei que no meio de tanto mimo é sempre difícil crescer, eu passei pelo mesmo, tal como tu e se calhar até com mais medos que tu, mas, cresci e aprendi a fazer as coisas sozinha e hoje, segui-te e estavas tal e qual eu na primeira vez que a mãe me pediu para o fazer. Fizeste-o correctamente e agora, achas que esta foi a primeira responsabilidade que tiveste, não é?”
 Não soube bem o que lhe dizer, sorri sem lhe dizer uma única palavra e ela sem me dar tempo de abrir a boca, voltou a dizer-me outras palavras.
- “Estás errada, nunca vi ninguém que quando estivesse doente tomasse os medicamentos na hora certa! E sabes o que é isso? É responsabilidade. Seres responsável não implica que faças as coisas sozinha, mas, que as controles para que corram bem”
 Percebi que a minha irmã só me estava a ajudar, só me estava a dizer coisas bonitas e sentidas, corri para os braços dela sem lhe dizer qualquer palavra.
 Será possível que já era responsável por mim mesma desde sempre, basicamente? Que forma estratégica era esta de viver? Meu deus, estava chocadíssima com a minha própria realidade. São incríveis as coisas que fazia inconscientemente!
 Nos dias de hoje, quando olho para trás revejo-me naquilo que hoje sou, não significa que hoje, com dezasseis anos permaneça com os mesmos medos, mas revejo que todos eles me tornaram forte, capaz de ultrapassar qualquer obstáculo que a vida me apresentasse e nessa altura apercebi-me de que “aquilo que não nos mata, nos torna mais fortes!”
Agora, na minha idade, todas as raparigas voltam a fazer-me lembrar as minhas amigas da escola, todas querem agradar alguém ou querem despertar a atenção de algum rapaz. Eu também já me sinto bem em fazê-lo, mas não quero desiludir-me nem sequer dizer o que todas as mulheres dizem quando querem dizer que algum homem as deixou mal e dizem-se “sofrer por amor”.
Esses não eram os planos para a minha vida, e, nem sequer quero desperdiçar uma única lágrima quando o meu pai sempre me ensinou que apenas ele, era o único homem desde mundo a merecer uma lágrima minha, não fosse ele o homem da minha vida.
 Meses depois, inconscientemente, à porta da escola trocava olhares com um rapaz de uma outra turma, fazia-o da forma mais pura do universo, sem sequer imaginar que isso pudesse fazê-lo entender as coisas de outra maneira.
Quando chegava a escola, sentia uma forte necessidade de o procurar pelos corredores, arranjava mil e uma desculpas para percorrer a escola em busca de mais um olhar. Os dias foram passando e para além dos olhares, nem mais um sinal. Até ao dia em que fui surpreendida por ele, pela vida, por mim, enquanto me dirigia para o portão, avistava-o bem de longe, e conforme me aproximava, continuavam a persistir os olhares até que me desperta a atenção um sorriso, um forte sorriso. Não podia acreditar, nem podia crer que era para mim. A minha insegurança falou mais alto e eu não correspondi as expectativas dele, talvez… Regressei a casa, mas não me saía da cabeça aquela imagem.
 No dia seguinte, volto a vê-lo na minha direcção, pensei que fosse acontecer o mesmo que no dia anterior, mas não. Olhando sempre para os olhos dele, ele aproximasse e pergunta-me “Como te chamas?”, por momentos, pensei que estivesse a sonhar e que isto não me pudesse estar a acontecer. Respondi-lhe “Mariana, chamo-me Mariana”, num ato de vergonha.
Oiço a campainha tocar e apresso-me a regressar à sala de aula. Quando viro as costas ele vem atrás de mim e dá-me um bilhete, não o quis ler, pois não queria que mais ninguém visse.
Fui para a aula com curiosidade e não aguentei mais, pedi ao professor se podia ir à casa de banho e levei o bilhete. Mal entrei na cabine abri-o e dizia “… vem ter comigo na hora de almoço, estou na parte de trás da escola à tua espera. Um beijinho.” Rapidamente percebi que as reticencias marcavam o meu nome, que na altura ele ainda desconhecia.
Voltei para a sala, deveria ter chegado com o sorriso mais parvo e mais rasgado de qualquer outro rosto dos meus colegas, incrivelmente, tudo aquilo me inspirava felicidade, parecia estar a viver um romance de telenovela.
As aulas terminaram e fiz o meu caminho habitual para a paragem, quando lá cheguei encontrei um papel no chão a dizer “MARIANA”, não podia acreditar, estaria eu mesmo num conto de fadas? Numa série de televisão? Não sabia, mas continuava a dizer a mim mesma que não me queria apaixonar.
Passos à frente encontrei-o! A minha primeira atitude foi perguntar-lhe o nome, com um sorriso rasgado (mais que o meu, possivelmente) oiço, “Afonso”.
Entretanto, segundos depois, avisto o autocarro, dirijo-me ao meu novo amigo Afonso e dou-lhe um beijinho, seguindo de um “Até amanhã!” e assim entrei no autocarro. Não sabia como agir, a minha vida estava a dar voltas por cima de mim mesma, seria sinceramente real tudo o que eu estava a ter, ver, ouvir e sentir?
Querem saber um segredo? Não senti os medos das coisas que a minha irmã me contava, não queria saber que raio de relação estaria eu a ter, o que sentia, era bem mais forte. Inesperadamente admiti a mim mesma, “Mariana, estás apaixonada!”.